martes, 19 de mayo de 2009

No que tange à interpretação da imagem fotográfica, se supõe que o sujeito tem que adotar um ponto de partida, um olhar específico, uma maneira de introduzir-se no imáginario da foto. Se costuma abordar a questão de duas maneiras: a primeira que opta por ler a imagem fotográfica como marca, de algo que esteve aí, alguma coisa que realmente aconteceu – quase como uma janela para o mundo –, sem questionamentos; e a segunda considera que essa janela mostra apenas um aspecto, um fragmento recortado de algo muito más amplo do que se vê, além de considerar ter sido obra da intervenção de determinado fotógrafo, com todas as suas escolhas, essa imagem não-idônea.

Talvez também se possa procurar um ponto tangente entre uma e outra. Se a imagem fotográfica veio a substituir outras formas de arte no que diz respeito à representação da realidade, se essa é advertida quase como uma evolução natural na nossa maneira de perpetuar um momento, parece que o mais interessante nas duas maneiras de abordar a questão está exatamente em perceber que sim, existiu, aconteceu alguma coisa (ainda que seja o processo); entretanto, duvidar da imagem é algo, digamos, além de novo na história das representações, bastante aconselhável.

Talvez esteja na consciencia da intervenção humana no processo de registrar algum acontecimento. Não necessariamente ver a imagem como mentirosa ou totalmente real, e senão ter em conta que há etapas, que há camadas, toda uma sorte de decisiões antes de que o documento final, a imagem fotográfica, esteja configurada e impressionada em algum suporte.

[esse post saiu de uma conversa com o fotógrafo Paulo Ribeiro para a elaboração de um Trabalho Prático conjunto. Alguns autores de referência que tratam do tema: André Bazin (¿Qué es el Cine?), Joan Fontcuberta (El Beso de Judas, Fotografía y Verdad), Vilém Flusser (Hacia una filosofía de la fotografía), Raúl Beycero (Ensayos sobre fotografía) e Roland Barthes (La cámara lúcida).]

Photobucket

Dispute between Serra Pelada gold mine workers and military police'
© Sebastião Salgado/AMAZONAS


0 comentários: